sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Senhores da guerra

Calor, barulho de explosões e cheiro de pólvora e fumaça por todos os lados. Mas ali dentro da cabine do caça, John Doe não ouve nada além de seus próprios pensamentos. A ordem chegou duas horas atrás e John foi o primeiro escolhido para a missão.

Ele se recorda de sua família numa terra distante, em um tempo que parece longe demais. Pensa em seus irmãos mais novos, suspira por sua amada e sente um enorme vazio em seu peito quando se lembra dos pais. Essa é sua última missão. Ele a aceitou para que seus irmãos nunca precisem conhecer os horrores da guerra.

Se tudo der certo, John será um herói para toda a sua nação. Mas ele se pergunta como ele será visto pelo o outro lado, por aqueles que morrerão essa tarde, para as famílias que terão que conviver com as sequelas que ninguém sequer imagina quais serão. Um tipo de bomba nunca antes usado. Não é a própria morte que o assusta. Ele quer com todas as forças que a guerra termine, mas se pergunta se o preço a pagar pela paz não é alto demais.

É dado o sinal para que ele se dirija à pista de decolagem, o avião já foi abastecido e carregado com o novo armamento. Os senhores da guerra já lançaram seus dados. Dizimar uma cidade inteira para acabar com o confronto é melhor do que deixar que ele se perpetue. Eles não podem perder. John pode. Milhares de pessoas que irão morrer pela bomba hoje e por muitos anos depois podem. Eu posso.

John posiciona o avião na cabeceira da pista. Ele olha para frente, com o semblante sério. Parece totalmente concentrado, mas eu sei perfeitamente o que ele sente. São suas últimas horas de vida e todos os seus medos e conflitos apertam seu peito e confundem sua cabeça. Em pouco tempo ele chegará a Hiroshima. Daqui a três dias, eu estarei naquele mesmo lugar, me dirigindo a Nagasaki. Três longos dias para pensar em qual é o valor da vida e qual será o meu legado para o mundo. Espero apenas que algum dia eu seja verdadeiramente perdoado.

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