terça-feira, 30 de setembro de 2014

2 colheres de felicidade - VIII

Depois do almoço de sábado, Bia serviu a sobremesa e ganhou vários elogios dos avós e do primo. Depois disso, ela e Carlos foram para o salão de jogos jogar totó e Ana e os sogros ficaram conversando no apartamento.

- E então, como foi o exame, Cláudia? Está tudo bem com o senhor Paulo?
- Ainda não sabemos, o resultado do exame sai em três dias, mas a gente pode pegar pela internet mesmo, não precisamos esperar aqui. Eu até tentei descobrir alguma coisa com o enfermeiro que fez o exame, mas ele disse que sem ter o histórico do Paulo e os outros exames, não seria ético dar um resultado impreciso. A gente vai ter que aguardar mesmo e depois conversar com o nosso médico lá.
- O que o doutor José me disse foi que provavelmente eu já tinha algum problema antes e que essa tensão toda por causa do acidente do Roberto pode ter potencializado os sintomas.
- Assim que a gente chegou em casa depois do enterro, o Paulo passou mal, foi aí que a gente descobriu que ele tinha esse tumor. De certa forma, foi bom, se não fosse por isso a gente poderia acabar descobrindo tarde demais.
- O susto foi tão grande que eu e a Cláudia resolvemos antecipar nosso check up anual. O dela, pelo menos, não deu nada muito fora do normal, só estresse mesmo. Mas se eu tiver que operar, eu opero. O que é uma operação para quem acaba de perder o filho, né?
- E você e a Bia, como estão, Ana? Vocês estão precisando de alguma coisa? Desculpa não ter dado muito atenção para vocês nessa hora tão difícil, mas esse diagnóstico do Paulo também pegou a gente de surpresa. Se não fosse o meu sobrinho Carlos, eu acho que já teria ficado louca! Ele está sendo como um filho, leva a gente para fazer todos os exames! Eu fico preocupada com você e a Bia aqui, sem nenhum parente por perto. Eu sei que a doceria é importante para você, mas, é como eu disse antes, se vocês quiserem, podem vir morar com a gente, vocês sempre vão ser bem-vindas lá em casa.
- Obrigada, Cláudia, mas não queremos dar trabalho para vocês. Por enquanto, estou conseguindo tocar a vida. Ainda estou um pouco perdida com essa coisa de administrar um negócio e fazer o inventário do Roberto, mas tem muita gente me ajudando aqui, eu e a Bia não estamos sozinhas, não se preocupe!
- Eu fico aliviada em saber que vocês estão bem, apesar de tudo. Bem, aqui estão os documentos que eu encontrei em casa, será que algum deles pode ajudar?
- O advogado me deu essa lista com os documentos que estão faltando, vamos conferir aqui... sim, eu acho que é exatamente isso que ele precisa! Ah, que bom que encontramos! Eu não sabia mais onde procurar!
- Eu tinha levado no cartório para reconhecer firma, mas acabei demorando e o meu filho tinha horário para pegar o avião para voltar, aí eu fiquei de entregar depois e no fim nós dois acabamos esquecendo, me desculpe por esse transtorno, Ana!
- Imagina, senhor Paulo! Ninguém nunca espera que pessoa que vive do nosso lado vá morrer de uma hora para a outra, né? O importante é que agora a documentação do Roberto está certinha e o inventário vai ficar pronto mais rápido.
- E está tudo assinado, com firma reconhecida e tudo. Mas, olha, eu sei que essas coisas demoram, se você estiver precisando de dinheiro para comprar as coisas para a minha neta, pode falar, viu? Nós não somos ricos, mas no que a gente puder ajudar a Bia, a gente vai ajudar!
- Por enquanto está tudo bem, senhor Paulo, estou conseguindo me virar. E acho que o melhor que o senhor pode fazer pela Bia agora é cuidar da sua saúde! Ela acabou de perder o pai, ela não pode perder o avô tão cedo, não!
- Ah, com isso você não precisa se preocupar, não, eu ainda quero viver até ver a minha neta se formar na faculdade!
- Mamãe! Já voltamos! O tio Carlos é muito ruim no totó, ele perdeu até de mim!
- Ah, mas você fica girando sem parar, eu te disse que isso não vale, né?
- Mas eu sou criança, criança joga assim, ué!
- Bia, você não pode inventar regras só para poder ganhar, né? Tem que jogar direitinho, senão não vale!
- Ah, tá bom, mamãe. A gente pode considerar empate então, tio Carlos?
- Ok, empate então. Mas eu vou querer revanche quando eu vier para cá outra vez!
- Bia, vem aqui com a vovó um pouquinho! Tenho umas coisas para te mostrar!
- O que é, vovó?
- Eu achei umas fotos de quando o seu pai era criança, da sua idade, você quer ficar com elas?
- Olha, o papai era bochechudo!
- Sim, seu pai foi uma criança gordinha! Mesmo assim ele era lindo, não acha? Ele tinha os olhos iguais aos seus!
- E quem é esse aqui com o meu pai?
- Sou eu, ué, não reconhece o seu avô?
- Mas você tinha muito cabelo antes, vovô! E agora já está ficando careca!
- Ah, é que dá muito trabalho ficar penteando o cabelo todo dia de manhã!
- Bia, eu também trouxe essas coisas aqui, elas eram do seu pai, eu queria que você guardasse de lembrança.
- Um ursinho de pelúcia sem nariz e um cobertor de criança?
- Sim, eram do seu pai quando ele era bebê, eu não tive coragem de jogar fora, mesmo que estejam velhos.
- Mamãe, será que a dona Rute consegue consertar o nariz do ursinho para mim? Eu gostei dele!
- A gente pode pedir para ela, Bia!
- Pessoal, desculpa ser chato, mas acho melhor a gente já ir se despedindo para ir ao aeroporto, já está quase na hora!
- Ah, obrigada, Carlos, se deixar a gente passa o dia todo aqui com a Bia e nem percebe!
- Mas por que vocês precisam ir embora tão cedo, vovó? Eu nem acabei de matar a saudade ainda!
- É que o vovô está um pouquinho doente, então o médico pediu para ele não ficar muito tempo fora de casa. Mas se o vovô sarar logo, quem sabe você não vai poder ir passar uns dias na casa da vovó nas suas férias, heim? Torce para o vovô ficar bom rapidinho, tá?
- Eu vou torcer com todas as minhas forças! Ah! Vovó! Você pode me dar o seu endereço?
- Para você ir me visitar nas férias, Bia? Pode deixar que a vovó te busca no aeroporto, não se preocupe!
- Não, vovó, é outra coisa, mas é surpresa! Quando estiver tudo pronto, eu mando para você pelo correio!
- Que tipo de surpresa, Bia?
- Não posso contar ainda, senão não vai ser mais surpresa, né?
- A Bia anda cheia de segredinhos ultimamente, Claudia. É praticamente um mistério ambulante!
- Mas vocês duas vão gostar da surpresa, eu tenho certeza!
- Está bem, aqui está o endereço, Bia, guarda direitinho, tá? Vovó está curiosa!
- E o vovô também!
- Se cuida, Ana, se vocês precisarem de mais alguma coisa, me liga, tá?
- Pode deixar, Cláudia! Por favor, me avisa quando tiver notícias sobre o exame, está bem?
- Aviso sim, a gente nem comentou nada antes porque não queria te dar mais preocupações. Mas vai dar tudo certo, para todos nós, chega de desgraça nessa família, né?
- Boa viagem, senhor Paulo! Cuida bem dessa saúde, heim?
- Pode deixar, Ana! Dá um beijo no vovô, minha netinha linda!
- Beijo, vovô! Beijo, vovó! Boa viagem!
- E eu, não ganho beijo, não?
- Beijo, tio Carlos! Eu vou treinar jogar totó sem girar, aí a gente vai ter nossa revanche na próxima vez!
- Vou aguardar ansiosamente! Tchau, Bia! Tchau, Ana! Obrigado pelo almoço, estava tudo muito bom!
- Obrigada por terem vindo! Boa viagem!

O resto do sábado e o domingo passaram tranquilamente naquela semana. Bia e Ana arrumaram a casa, fizeram a lição e assistiram juntas a um desenho na televisão. Bia aproveitou quando a mãe estava ocupada fazendo o jantar para espionar a caixa que a Gabriela havia lhe mandado. Achou tudo lindo, fechou a caixa novamente e escreveu bilhetes para cada um dos membros do seu grupo secreto. Estava quase tudo pronto para a grande surpresa.

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