terça-feira, 30 de setembro de 2014

2 colheres de felicidade - VII

No dia seguinte, Bia chegou eufórica da escola.

- Mamãe, a festa foi um sucesso! Alguns meninos até levaram presente de aniversário para o Miguel, nunca vi ele tão feliz! Todas as tias falaram que o seu bolo estava uma delícia, como sempre! O único problema é que ele pensa que foram os pais dele que fizeram a festa sem contar para ele. Claro que ninguém contou nada, né? Só espero que ele não fique muito decepcionado quando ele chegar na casa dele.
- Ah, é? Então quer dizer que hoje ele nem arranjou encrenca com ninguém? E o primeiro pedaço, para quem foi?
- Ele estava chato como sempre antes do recreio, mas depois da festa ele ficou tão contente que nem lembrou mais de ser chato! Eu queria saber o que ele pediu quando foi cortar o bolo, ele demorou um tempão para pensar! E ele já tem tudo, o que mais ele pode querer?
- Nem sempre as coisas são como parecem, Bia. Pode ser que tenha muita coisa que ele queira e que não pode ser comprada.
- Tipo a felicidade que a gente coloca na comida?
- É, tipo isso. E o cartão, ele leu? Gostou?
- A tia Kelly ajudou o Miguel a ler. Mamãe, eu acho que ele gostou mais do cartão do que dos outros presentes que ele ganhou! Acho que é porque tinha felicidade nele! Mesmo que ele seja muito chato com a gente às vezes, todo mundo se esforçou para deixar o cartão mais bonito porque todo mundo se empolgou com a ideia de comer bolo! Hahaha!
- Bom, pelo menos por um dia vocês viram que é possível fazer as coisas de um jeito diferente, né? Quem sabe de agora em diante vocês todos não consigam ser amigos de verdade.
- Não dá para fazer festa todo dia, mas vamos ver, né, mamãe! Amanhã eu te conto como ele vai se comportar.
- Eu desejo boa sorte para todo mundo então! Independentemente do que vai acontecer, eu tenho muito orgulho da minha filhinha linda que fez tudo isso acontecer!
- E eu tenho orgulho de ter a melhor mãe do mundo! Eu te amo, mamãe!
- Eu te amo também, Bia! Muito, muito, muito!

Na quinta-feira, ao fechar a loja, Pedro pediu a Ana para esperar um minuto, tinha esquecido que precisava entregar uma caixa a ela.
- Uma caixa? Caixa do que, Pedro?
- Bom, na verdade a caixa é para a Bia, será que você pode levar para ela? Foi a Gabi quem passou aqui mais cedo e pediu para entregar para ela.
- Ah, o tal segredinho da Bia. Não me diga que é você o tal quarto elemento da gangue!
- Hahaha! Ana, você fala como se a gente estivesse fazendo algo ilegal, mas eu tenho certeza de que você vai gostar quando souber o que é. E você conhece o ditado: duas cabeças pensam melhor do que uma... um monte então, imagina só no que vai dar! Eu mal fiquei sabendo do projeto e já estou com milhões de ideias para ele!
- Eu só não entendo porque todo mundo pode saber o que está acontecendo e eu não. Se é tão bom assim, por que só eu não posso ajudar?
- Porque, em parte, a surpresa é para você! Bom, não só para você, é para a doceria também.
- Para a doceria? Mas o que a Bia tem a ver com isso? Espero que isso deixe de ser segredo logo, porque eu estou cada vez mais confusa e curiosa com essa história!
- Não se preocupe, a gente só precisa terminar de acertar os detalhes. Na hora de colocar o plano em prática, você vai saber do que se trata, até porque a gente vai precisar da sua permissão.
- Pelo menos existe algum tipo de cronograma para essa maluquice toda?
- Segunda semana de outubro, é tudo o que eu posso dizer. Mas se tudo der certo, semana que vem você já vai saber do que se trata. É que começou com uma ideia pequena e aí cada pessoa que foi entrando na “gangue”, como você chama, foi incrementando mais a ideia até ela virar um projeto bem maior! E estamos todos muito empolgados, acho que isso tem tudo para dar certo!
- Essa semana mesmo eu estava dizendo para a minha vizinha que eu preciso exercitar mais esse meu lado de confiar mais nas pessoas ao meu redor, acho que eu estou sendo obrigada a fazer isso agora, quer eu queira, quer não!
- Então você promete que leva a caixa para a Bia sem espiar o que tem dentro dela?
- Ok, prometo. Mesmo me corroendo de curiosidade!
- Isso tudo vai valer a pena, eu garanto! Boa noite, Ana! Até amanhã!
- Até amanhã, Pedro!

A sexta-feira transcorreu normalmente, exceto pelo incrível trânsito de bilhetes, caixas e biscoitos entre Bia e sua “gangue”.

“Seja lá o que for que eles estejam tramando, parece que está mesmo virando uma grande bola de neve! O que será que uma garotinha de 6 anos e quatro adultos podem estar criando juntos?” – foi o pensamento que acompanhou Ana durante o dia inteiro. “E o pior é que além de não me contarem nada, eu ainda fico servindo de pombo-correio entre eles...”, suspirou. Se não confiasse tanto nas pessoas envolvidas, Ana já teria exigido que eles contassem o que estavam planejando. “Confiar, delegar, desapegar”, Ana dizia para si mesma, como um mantra. “Tenho que aprender a deixar de ser tão controladora.”

Quando chegou em casa depois do trabalho, ela tomou um banho e depois foi fazer o jantar enquanto conversava com a filha sobre o dia seguinte.

- O que você acha que podemos fazer para o almoço de amanhã? Você lembra que seus avós vão vir comer conosco, né?
- A vovó gosta muito daquele seu arroz colorido e o vovô adora lasanha!
- Está bem, mas arroz não combina muito com lasanha, vamos ter que fazer alguma outra coisa para a vovó comer com o arroz, não acha?
- Eu posso comer batatas? Já sei! Batatas com carne e aquele pozinho amarelo! Que fica meio ardidinho!
- Curry? Pensei que você não gostasse de curry!
- Eu gosto, mas só quando não está muito forte, porque senão eu tenho que beber um litro de água! E é melhor a gente não fazer muito forte mesmo, porque se o vovô quiser comer também, ele pode acabar engasgando e cuspindo a dentadura! Hahaha!
- Bia! Isso é coisa que se diga! Nem pense em falar essas coisas perto do vovô, heim? Senão ele vai achar que a mamãe não está te educando direito!
- Desculpa, mamãe! Mas eu já vi a dentadura do vovô! É engraçado quando ele fica sem dentes! Hahaha!
- Ai, ai, ai, como é que eu fui ter uma filha tão danadinha?
- Eu posso fazer a sobremesa? Deixa, deixa?
- E o que a senhora está pensando em fazer para sobremesa?
- Gelatina colorida! A gente faz a gelatina depois da janta e amanhã de manhã a gente junta tudo!
- Uhm, pode ser, deixa eu ver se a gente tem gelatina em casa... Sim, temos 3 pacotes, acho que é o suficiente, não vem tanta gente assim. Bia, no fim das contas ontem você acabou não me contando se o Miguel está se comportando melhor agora.
- Ah, está sim, mamãe! Hoje ele até ganhou um elogio da tia Kelly porque escreveu uma frase inteira certa! E você não vai acreditar! O pai dele foi na escola hoje!
- Jura? E você sabe qual foi o motivo da visita?
- A tia Kelly não quis falar, mas pelo menos o pai dele não estava com cara de bravo. Eu estava com medo que se o Miguel descobrisse que a festa não foi feita pelos pais dele, ele fosse ficar emburrado de novo. Ou que o pai dele fosse ficar bravo. Mas eu acho que está tudo bem, o Miguel estava até feliz por o pai dele ter finalmente ido na escola, porque ele nunca vai, nem quando tem festa. O pai dele só ficou uns minutinhos, ele falou com a tia Kelly e com a tia Paula. E todo mundo na sala queria ficar na porta espionando para ver a cara dele, mas a tia Tereza não deixou, então eu só vi rapidinho, depois tive que voltar para o meu lugar.
- Se você viu rapidinho, quer dizer que a senhora era uma das pessoas que estavam na porta quando a tia pediu para vocês ficarem sentados, é isso?
- Xi, falei demais! Mas foi só um minutinho, mamãe! Eu juro! Eu nem atrapalhei a aula, porque a tia Kelly nem estava na sala, ela estava falando com o pai do Miguel!
- Mas se a tia Tereza estava com vocês enquanto a tia Kelly estava fora, então você também tem que obedecer a tia Tereza, né? Não pode ficar fazendo bagunça fora de hora!
- Desculpa, mamãe! Foi mais forte que eu!
- Dessa vez passa, dona Bia! Eu fiz yakissoba, come direitinho e depois vamos fazer a gelatina, está bem?
- Obaaa! Adoro yakissoba! E depois da gelatina, a gente pode ler mais um pouquinho do livro da Matilda? Estou gostando muito dele!
- Claro, filha! Eu também estou gostando da história, foi uma ótima escolha!

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