sexta-feira, 7 de novembro de 2014

As cartas do fim do mundo - V

Sampa, um belo dia de sol!

Putz, uma lupa, um punhado de sementes, uma pipa, bloquinhos de plástico e agora... um porta-retrato??? E sem foto nenhuma? Pô, poderia ter pelo menos mandado uma foto desse lugar aí no fim do mundo onde você mora, estou curioso para saber como é, cara!

Bom, já que você não anda falando muito (para não dizer que não anda falando nada), eu resolvi imitá-lo! Junto com esta carta, estou lhe mandando as fotos que tirei nos últimos meses desde que a gente voltou a se corresponder: o formigueiro no meu quintal, as flores no jardim, os pacientes brincando no hospital e a pipa lindona voando no céu azul do parque. E no porta-retrato vou deixar aquela última foto da nossa turma reunida 10 anos atrás. Só agora quando fui colocá-la lá é que eu lembrei que no verso dela está escrito: “E que esse nosso sorriso se repita por todos os dias de nossas vidas!” Engraçado é que eu não me lembro de quem a escreveu. Será que foi uma das meninas? Nunca mais as vi. Tem notícias de alguém? Estava pensando que a gente poderia se reunir outra vez quando você vier passar as férias aqui, o que você acha? Estou curioso para saber que fim cada um levou.

Sabe, esses dias fiquei pensando em porque você me mandou todas essas coisas sem dizer uma palavra sequer. E o mais engraçado é que essas coisas aparentemente tão simples mudaram radicalmente minha perspectiva de vida! Eu meio que deixei as parafernálias modernas de lado para ficar brincando no quintal, troquei o carro pela bike, minha ex siliconada por um bom papo e agora me preocupo mais em me divertir no trabalho do que ganhar rios de dinheiro no fim do mês. Não sei ainda qual vai ser o próximo passo, mas estou até pensando em fazer curso de culinária, que tal? Haha! Eu lembro que quando você me disse que iria largar a boa vida que você tinha aqui para ajudar pessoas que você nem conhecia do outro lado do mundo eu o tachei de louco! Mas agora estou vendo que talvez o louco tenha sido eu, que passei a vida toda fazendo exatamente tudo o que a sociedade esperava de mim e me esqueci de viver meus próprios sonhos. Se a história da minha vida tivesse terminado há alguns meses, todo mundo provavelmente diria que ela teve um final feliz: bom emprego, casa, carro, namorada bonitona... Mas sabe qual é o problema dos finais felizes? É que eles congelam a vida! Simplesmente não há mais nada depois deles! Nada além do marasmo, do tédio, da mesmice! E quer saber? Eu não quero mais reticências para minha história, quero é muitos pontos de exclamação!!! De agora em diante, em todos os dias da minha agenda, vai estar escrito: “Compromisso de hoje: viver como se hoje fosse minha última oportunidade de fazer o meu melhor!”.

Cara, só quero lhe dizer uma coisa: MUITO OBRIGADO!

Abraços!
Maurício

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