sexta-feira, 7 de novembro de 2014

As cartas do fim do mundo - IV

Sampa, algum dia do começo de algum ano.

Hey, cara, faz tanto tempo assim que você saiu do Brasil que nem se lembra mais das datas comemorativas? Dia das crianças já passou faz tempo, heim? Não entendi essa de você me mandar uma pipa. (Pipa, cara? Ela é linda, mas eu poderia ter comprado uma aqui, ia dar bem menos trabalho, não?) E... o que é isto mesmo? Esse conjunto de bloquinhos de montar. Já estou velhinho demais para brincar dessas coisas, não? E nem tenho filhos, não entendi mesmo...

Mas... como você sempre foi o entendido sobre tudo da turma, lá fui eu testar os presentes. Algo me diz que no fundo, no fundo (sabe-se lá onde) você deve ter uma explicação plausível para toda essa coisa esdrúxula! Eu confesso que adorei os bloquinhos! Montei e desmontei várias coisas e fiquei tirando fotos de tudo! Parecia criança mesmo! Teve um dia que eu até levei os bloquinhos para o hospital e fiquei brincando com o pessoal da pediatria, aí alguém teve a brilhante ideia de chamar os pacientes na fila de espera para vir brincar também! Cara, foi o dia mais divertido da minha vida no trabalho! Eu achei que só as crianças iriam gostar, mas, que nada, tinha até senhor idoso disputando os bloquinhos! Haha! Acabei tendo que deixar o brinquedo lá, não tive coragem de trazê-lo de volta e estragar a brincadeira do pessoal. E o melhor de tudo é que todos os médicos resolveram fazer uma vaquinha e comprar mais bloquinhos! Agora parece até que tem menos gente reclamando sobre a fila! Até o diretor do hospital veio elogiar nossa iniciativa. (Mal sabe ele que na verdade era tudo brincadeira!) Parece que o trabalho está até mais divertido agora! E tudo isso por causa de meros bloquinhos de plástico! Quem diria, heim?

Agora a pipa... ok, eu admito que demorei a criar coragem para empiná-la. Sei lá, parece meio coisa de gente vagabunda empinar pipa depois de uma certa idade... Mas um belo dia lá fui eu para o parque tentar entender porque raios você me mandaria uma pipa aí do outro lado do mundo. Senti-me meio ridículo no começo, mas depois que ela estava lá em cima, linda, eu simplesmente esqueci-me de tudo. Nossa, como foi bom! Pipa tem gosto de infância, do tempo que a gente ficava disputando quem conseguia cortar a linha do outro, lembra? Cara, bateu saudades! E pensar que eu nem lembrava mais o que era sentir o vento na cara! Muito bom!

Quanto à dona do restaurante... bom, descobri que ela tem namorado. Um belo balde de água fria nas minhas intenções, mas também, o que eu queria? Uma mulher com um bom papo e que cozinha tão bem, é lógico que ela não poderia estar assim dando sopa, né? Mas, ganhei uma amiga. Já estou no lucro!

É isso, por enquanto. Será que algum dia vou ler alguma coisa que você escreveu? Estou ficando preocupado, heim? Se continuar assim nas minhas próximas férias eu compro uma passagem e vou aí te resgatar no fim do mundo! Haha!

Abração!
Maurício

PS- Lindas flores, heim? Nunca tinha visto nenhuma parecida aqui no Brasil. Será que elas têm nome? Dão um trabalho do cão para cuidar, mas valem cada minuto! Só elogios de todas as visitas aqui em casa! Valeu mesmo!

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